Capital & Trabalho
Victor José
Hohl
O fortalecimento do mercado de ações é um bom caminho para
desenvolver o país.
As dificuldades dos últimos anos reduziram o tamanho do
mercado de capitais brasileiro e levaram muitas empresas ao fechamento do
capital. A utilização desse mercado como instrumento indutor do crescimento
econômico, por meio do lançamento primário de ações para a capitalização
das empresas, tem sido insignificante.
O principal motivo é a alta taxa básica de juros praticada
pelo Banco Central, desde a implantação do Plano Real. Mas a condução da política
monetária e cambial exigia tal prática, para o efetivo controle da inflação
em um país com décadas de cultura hiperinflacionária.
Outro fator é a CPMF. O imposto eleva o custo das transações
em bolsa e afasta os especuladores, necessários para a liquidez das ações.
Todos sabemos que são eles que garantem essa liquidez e também a dos títulos
- principal motivo da existência das bolsas. Existe também o fato de as bolsas
brasileiras contarem com grande número de investidores institucionais (fundos
de pensão e de ações), cujo objetivo é de longo prazo - e poucos
especuladores - e com pequena participação de pessoas físicas.
Felizmente, há boas notícias para o desenvolvimento do
mercado de capitais no Brasil: as taxas básicas de juros Selic tendem a cair
lenta e gradativamente - não podem ser mantidas tão elevadas por longos períodos,
sob pena de sufocar toda a atividade econômica; tramita no Congresso Nacional
projeto de lei que exclui a CPMF das transações em bolsa; e a incorporação
de um enorme contingente de trabalhadores que utilizaram - e terão mais
oportunidade de utilizar - o FGTS na compra de ações. Muitos serão futuros
investidores desse mercado. É o capital e o trabalho dando as mãos para o
desenvolvimento do país.
As entidades sindicais estão descobrindo que a união com o
capital é o melhor caminho. Em futuras negociações trabalhistas, um dos
principais itens será a participação do empregado no capital da empresa. Em
vez de simples aumento salarial, o trabalhador obterá participações - e isso
tem vantagens para ambos os lados. Com a distribuição, as ações não
descapitalizam as empresas, mas as fortalecem; e o empregado, ao longo dos anos,
constituirá uma carteira de ações e obterá duas fontes de renda.
A experiência pioneira da pulverização das ações da Petrobrás
com a utilização do FGTS, cujo ganho potencial sinaliza para uma valorização
superior a 50%, foi uma ótima medida para democratizar o capital e despertar no
trabalhador o interesse pelas ações. Logo depois, foi a vez da Companhia Vale
do Rio Doce, em poder do BNDES. E recentemente, o ministro Pedro Malan afirmou
que é desejo do governo negociar parte das ações do Banco do Brasil (a
utilização do FGTS está em estudo), mas sem abrir mão do controle acionário.
Iniciativas como essas abrem o mercado para o trabalhador e se
constituem no início da união do capital e do trabalho para o tão esperado
desenvolvimento do país. Também abre para o analista de mercado um enorme
campo de treinamento para esses recém-chegados investidores.
* Victor José Hohl é economista, ex-funcionário do BC e conselheiro da Abamec Centro-Oeste.
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Material
disponibilizado neste site em 22/06/2002