Balanço Social: como estamos caminhando

POR REINALDO FRANCO*

Nunca se falou tanto em transparência e ética como nas últimas décadas, e, em todas as atividades sociais somos chamados a inserir estes valores de forma inequívoca e crescente como única forma de garantirmos o bem comum e o crescimento de um povo, nação ou país.

No Brasil, temos presenciado um acelerado processo de moralização das atividades, quer seja no campo político, quer seja no campo econômico e social. A classe contábil, pelas suas características e pela sua formação, tem contribuído de maneira decisiva para esse processo, basta termos em conta a nossa elevada contribuição para a promulgação e implementação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

No tocante ao Balanço Social, entendemos não haver ferramenta mais eficiente e eficaz para trazer a transparência e a ética para as atividades empresariais. Da mesma forma que os Balanços e Demonstrações Financeiras são a única forma de se medir e avaliar o desempenho das atividades empresariais, o Balanço Social se apresenta como única forma de se medir e avaliar as atividades sociais, independentemente de quem as pratique: governo, empresas ou pessoas, garantindo à sociedade o direito de aderir ou repudiar esta ou aquela atividade.

As demonstrações contábeis necessitaram de muito tempo para atingir o formato atual, padronizado, unificado e que permite que a sociedade em geral possa ter a radiografia exata de cada empreendimento, e, de forma análoga, o Balanço Social carecerá de tempo para atingir a sua maturidade e proporcionar todos os inestimáveis benefícios que a sociedade atual e as gerações futuras esperam de nós. Nosso entendimento é o de que essa maturidade se dará na direta proporção do envolvimento das células sociais, e a classe contábil se apresenta como divisora de águas nesse processo.

Vamos relembrar um pouco da história mundial e nacional do Balanço Social para identificarmos como poderemos aderir com maior vigor a esta causa.

1. Varias entidades e organismos internacionais vêm trabalhando no assunto já há algumas décadas, na busca de um padrão de balanço social, dentre os quais destacamos o Institute of Social and Ethical Accountability, a Coalition for Environmentally Responsible Economies (Ceres), esta última sediada em Boston, nos EUA, que em 1997, envolvendo empresas, ONGs, governos e associações de contabilidade, promoveu o nascimento do Global Reporting Initiative – GRI, cuja principal obra até o momento é a elaboração de um modelo de relatório baseado no conceito de sustentabilidade, isto é, proporciona a harmonia entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais de um negócio.

2. No Brasil, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que faleceu em 1997, nos deixou um legado materializado num modelo de balanço social que vem sendo adotado por inúmeras empresas e vem conquistando o respeito de analistas financeiros, nacionais e internacionais. O modelo do Betinho foi adotado pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE, ONG por ele idealizada, e é tão simples e vai direto ao ponto que surpreende os estudiosos da questão. (vide site www.ibase.org.br )

3. Igualmente no Brasil, o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, lançou em meados de 2001, o Guia de Elaboração de Relatórios e Balanço Anual de Responsabilidade Social, baseado nas determinações do GRI, com o objetivo de estabelecer um padrão global de balanço social. Várias empresas nacionais de renome estão aderindo a este modelo, dentre as quais destacamos a Natura, que rompeu o paradigma de que o Balanço Social deveria ser uma peça de marketing, onde somente fatos positivos deveriam ser explorados ou que falassem meramente de filantropia, que, em seu balanço social de 2000 apresentou inúmeros dados negativos de sua gestão, cumprindo fielmente o compromisso de transparência, na certeza de que tais demonstrativos podem se transformar em poderosos instrumentos de melhoria de gestão e de captação de recursos, num mercado globalizado e com investidores cada vez mais exigentes. (vide site www.ethos.org.br )

4. Em 1997, a Social Accountability International – SAI, editou a Norma de Responsabilidade Social SA8000, cujo objetivo é especificar requisitos de responsabilidade social para possibilitar a uma empresa: a) desenvolver, manter e executar políticas e procedimentos com o objetivo de gerenciar aqueles temas os quais ela possa controlar ou influenciar; b) demonstrar para as partes interessadas que as políticas, procedimentos e práticas estão em conformidade com os requisitos desta norma, que devem se aplicar universalmente em relação à localização geográfica, setor econômico e tamanho da empresa. Esta norma estabelece parâmetros da responsabilidade social nos itens: trabalho infantil, trabalho forçado, saúde e segurança, liberdade de associação e direito à negociação coletiva, discriminação, práticas disciplinares, horário de trabalho, remuneração e sistemas de gestão.

Como podemos analisar dos cenários descritos, o mundo todo está se mobilizando em torno da responsabilidade social e o Brasil encontra-se na vanguarda da defesa da ética e da cidadania, através da padronização e da proliferação da utilização do balanço social como ferramenta de crescimento e conquistas sociais.

Dispomos de modelos simples como o do IBASE que pode ser aplicado a qualquer tipo de atividade empresarial e de qualquer porte econômico, ao modelo mais amplo e completo como o do Instituto Ethos (GRI). Ambos são eficientes no que se propõem: levar à opinião pública e à sociedade, de forma responsável, ética e transparente, as informações de natureza social que permitam a construção de um povo, uma nação e um país sólido e que proporcionem um padrão de vida digno aos seus membros.

Nestes cenários, cabe a nós, profissionais contábeis, mais notadamente os empresários de serviços contábeis, abraçar tão nobre causa, e, como formadores de opinião que somos, promover a gradativa e sustentável implantação do balanço social nas empresas brasileiras, utilizando os modelos existentes de forma desarmada e participativa, contribuindo para a sua evolução, aprimoramento e crescimento.

Às entidades contábeis, fica o chamado de serem as timoneiras do envolvimento da classe nessa empreitada, fundamentado nas grandes contribuições que temos proporcionado ao país.

Ressaltamos o enorme exemplo dado pelo CRC-SP que vem publicando seu balanço social anualmente, cuja última edição é rica em informações ao seu público alvo dos esforços sociais que a entidade vem praticando. Iniciativas como esta devem ser adotadas por todas as entidades, de todas as categorias profissionais, pois têm a responsabilidade maior de preservar o bem social através da responsabilidade social.

A luta está apenas começando, e não nos basta apenas focar o pouco que vem sendo feito, mas o muito que pode ser feito com o concurso de todos, com o envolvimento e a participação de todos, na certeza de que os benefícios serão sentidos no curtíssimo prazo. O mundo e o Brasil agradecem.

POR REINALDO FRANCO*

Texto extraído da Revista SESCON nº 159 - Maio/2002, disponibilizada no site: www.sescon.org.br

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Material disponibilizado neste site em 03/07/2002