ESCÂNDALOS CONTÁBEIS: QUEM GANHA QUEM PERDE
Um sem número de articulistas têm procurado explicar o
que leva uma empresa a apresentar dados distorcidos do seu patrimônio, quem
se beneficia com isto e quem são os prejudicados. As conclusões são as mais variadas. Os executivos, responsáveis pela administração das
empresas flagradas foram logo colocados na berlinda, pois são os primeiros
interessados nos resultados positivos, uma vez que, via de regra, recebem
altos prêmios pelos resultados apresentados. Os órgão reguladores do mercado de capitais, também
estão sendo questionados, pois, entendem os investidores, caberia a estes
detectar distorções como as que têm sido apuradas. Não ficam de fora os
auditores independentes que certificaram as demonstrações econômico-financeiras,
passando para o mercado uma opinião, até então longe de qualquer suspeita. E os profissionais responsáveis pela contabilidade, onde
ficam nesta história ? Certamente, é muito difícil apontar quem são os
verdadeiros vilões nesse filme de terror das partidas dobradas, mas dá para
identificar, com certa facilidade, quem ganha e quem perde numa situação
como esta. Ao registrar como ativo uma determinada despesa, imputável
como tal, a empresa forja um lucro e passa uma impressão saudável para o
mercado, valorizando de forma artificial as ações representativas do seu
capital, prejudicando de forma direta aos que vierem a adquirir estas ações.
Com base nesses lucros fictícios os administradores
usufruem de vultosas gratificações, o governo se beneficia com impostos
incidentes sobre os lucros e até dividendos são destinados aos acionistas do
momento. Aparentemente, todos lucram, considerando-se que o mercado de
capitais é uma espécie de jogo que depende de fatores externos, da lei da
oferta e da procura e de outros aspectos, muitas vezes bem distantes do valor
real do patrimônio da empresa. Uma simples expectativa pode afetar
violentamente, para mais ou para menos, o valor das ações de uma companhia.
Entretanto, o problema é mais complexo e trás no seu bojo uma gama de
perdedores. Comecemos pela empresa, propriamente dita. A corrosão do seu
patrimônio pela sangria de recursos a levará, irremediavelmente a uma situação
de inanição financeira e à falência, prejudicando diretamente aos seus
acionistas e aos seus financiadores externos. Sendo a empresa um bem social,
perde a sociedade, pois inúmeros empregos deixarão de existir prejudicando
milhares de pessoas, dentre eles funcionários e seus familiares. O mercado de
capitais, sem dúvida, a mais salutar forma de financiamento das empresas,
submetido a escândalos dessa espécie, por sua vez, será obrigado a conviver
com uma alta dose de descrédito, levanto os investidores a procurarem outros
meios para aplicarem suas economias. E os responsáveis pela elaboração e
certificação das demonstrações financeiras, coitados, terão duas
escolhas: serem taxados de incapazes tecnicamente ou terem que conviver com o
estigma do não cumprimento dos procedimentos éticos a que estão submetidos
no exercício profissional. Situações como estas que envolvem bilhões de dólares
e que colocaram sob suspeita as grandes corporações americanas, guardadas as
devidas proporções, acontecem de quando em vez no dia a dia dos que militam
na profissão contábil. Mas, é exatamente neste momento, diante da cruz e da
espada, que o profissional deve lembrar dos compromissos éticos que se lhe
impõe a profissão e da responsabilidade de orientar o seu cliente de forma a
assegurar a sua sobrevivência sem priorizar a este ou àquele, mesmo porque,
para o profissional, práticas contrárias às normas só lhe trarão prejuízos,
tanto morais como financeiro. Diferentemente do que se imagina, a ciência contábil
termina ganhando nesse episódio, pois mais uma vez se apresenta como sendo o
espelho da empresa, deixando transparecer todas as suas virtudes e defeitos.
Para isso basta que se tenha olhos para ver e se queira enxergar.
Matéria extraída do Press Clipping Fenacon nº 285,
de 26 de Julho de 2002. Este é um resumo diário de
notícias ========================================================================= Matéria disponibilizada neste site
em 27/07/2002
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