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Caros alunos, vocês dominam contabilidade?

 

Quem aí pode me dizer, com convicção, que entende bem dessa matéria?

 

Alguém responde: Ah, professor João Leite... para com isso! Contabilidade é difícil, muito complicada, além do mais, as leis estão sempre alterando uma coisa aqui, outra ali!

 

- Interessante observação meu jovem. Como é o seu nome?

 

- Eu sou seu chará professor, mas todos me chamam de Joãozinho e eu gosto disso, então pode me chamar de Joãozinho também.

 

- Pois bem Joãozinho, vamos lá, contabilidade é sim, muito simples. E quem acha que ela vive mudando está confundindo as coisas. O que muda com certa regularidade são as leis tributárias, já a estrutura da contabilidade raramente sofre alguma alteração e segue firme, clara, lógica, como sempre foi. Digo, ainda: o ato de fazer contabilidade faz parte do cotidiano de todas as pessoas.

Não acredita?

Eu posso provar, pois fazemos contabilidade diariamente, sem perceber.

 

- Como professor?

 

- Simples Joãozinho, a contabilidade está em tudo:

Nós trabalhamos, e assim, temos salário a receber, um direito nosso, que será a nossa receita mensal. Aí vem o mês e o que nós fazemos? Pagamos planos de saúde, escolas das crianças, impostos, prestações, faturas do cartão, contas de luz, água, internet, farmácia, gasolina… Também temos nossos bens: casa, carro, terreno… Nossos investimentos: poupança, aplicações… E, claro, nossas dívidas: cheque especial, financiamento, parcelamento no carnê…

 

Percebeu o corre-corre?

 

No fundo, estamos o tempo todo lidando com receitas, despesas, bens e dívidas. E pra não afundarmos, temos que manter o controle disso tudo. E esse controle nada mais é do que fazer a nossa própria contabilidade — que sempre fazemos, mas no instinto.

 

- Tá vendo Joãozinho, você não precisa ser contador pra entender de contabilidade, basta entender a sua própria vida.

 

Você pode até montar o seu "Balanço Pessoal", o que demonstrará que realmente faz contabilidade. Vamos nessa?

 

Já que a sua contabilidade é pessoal, vamos representá-la de forma bem personalizada. Imagine-se em pé, de braços abertos, como se estivesse se olhando no espelho, conforme imagem abaixo.”

 

 

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Ninguém é perfeito, certo? Toda pessoa tem seu lado bom e seu lado ruim.

Pense comigo: quando alguém diz ‘aquela pessoa é esperta, ativa, brilhante’, está fazendo um elogio, uma deferência positiva. Pois bem, vamos associar o lado esquerdo da sua imagem ao ATIVO (sinônimo de coisa boa, positiva).

Agora, quando alguém comenta ‘aquela pessoa é lenta, passiva, apagada’, já é uma conotação negativa. Então vamos associar o lado direito da sua imagem ao PASSIVO (sinônimo de coisa ruim, negativa).

Ou seja, cá pra nós, todo ser humano será um balanço: de um lado o ativo, do outro o passivo:

 

 

 

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Assim, do lado esquerdo da sua imagem (no ATIVO) vamos colocar tudo que você tem de positivo: seus bens e direitos. Já do lado direito da sua imagem, (no PASSIVO), vamos colocar tudo aquilo que você deve: suas obrigações.

 

Agora imaginaremos que você tivesse a seguinte situação em 30/06/2025:

 

 

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A sua situação patrimonial ficaria demonstrada contabilmente da seguinte forma:

 

 

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O seu Balanço Pessoal acima demonstra claramente a sua situação patrimonial no dia 30/06/2025. Você têm bens e direitos (ativo = coisas boas) no valor total de R$ 450.382,00 e têm dívidas (passivo = coisas ruins) no valor total de R$ 78.628,00. Podemos dizer que a sua situação patrimonial é confortável, pois você tem muito mais coisas boas (ativo) do que coisas ruins (passivo).

 

Mas repare bem: esse Balanço ainda não está completo. Falta um detalhe tão evidente que não pode passar despercebido. Qual será?

 

Como já vimos, o total das coisas boas (ativo) é bem maior do que o total das coisas ruins (passivo), gerando uma diferença positiva de R$ 371.754,00, Certo? Essa diferença pode ser entendida como “dinheiro vivo”, “grana limpa” nas suas mãos, que poderíamos chamar de lucro ou, no conceito contábil, de Patrimônio Líquido.

 

Essa diferença, que já estava implícita do lado direito (Passivo) do seu Balanço, agora vamos deixá-la explícita para dar clareza a situação, estabelecendo-se, assim, a igualdade entre os dois lados: Ativo = Passivo.

 

Em outras palavras: as suas coisas boas (Ativo) serão sempre iguais à soma das suas coisas ruins (dívidas) com o seu Patrimônio Líquido, que juntos compõem o seu Passivo.

 

Com isso, o seu Balanço Pessoal completo ficaria assim:

 

 

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Sacaram porque o ATIVO será sempre igual ao PASSIVO ?

 

Joãozinho levanta a mão:

- Professor João Leite... tô confuso! Meu Tio Zé, que é Contador, me disse que esse tal de Patrimônio Líquido é a diferença entre o Ativo e o Passivo. Agora o senhor vem com essa de que o Ativo será sempre igual ao Passivo. Então, pela sua lógica, o Patrimônio Líquido deveria ser sempre igual a zero. Não tô entendendo nada!

 

- Procede a sua dúvida, Joãozinho. Muita gente ainda repete esse chavão antigo de que o Patrimônio Líquido é simplesmente a diferença entre o Ativo e o Passivo. Mas atenção: desde a famosa Lei das S/A (Lei 6.404/1976), o Patrimônio Líquido já nasce ali, no lado direito do balanço patrimonial, dentro do Passivo.

 

Antes mesmo da Lei 6.404/76, bem lá atrás, o artigo 135, "b", do Decreto-Lei nº 2.627, de 26/09/1940, já integrava o Capital e as Reservas Legais dentro do Passivo. O Passivo era dividido em Passivo Exigível e Passivo Não Exigível, compreeeeendendo neste último o Capital e as Reservas Legais. Só não havia, ainda, a expressão "Patrimônio Líquido", que surgiu pela primeira vez em nossa normatização apenas quando da edição da Lei 6.404/76.

 

Antes da Lei 6.404/76 era comum encontrarmos Balanços Patrimoniais dividido em três grupos: Ativo, Passivo e Situação Líquida, inclusive nos livros antigos de contabilidade. Esse termo "Situação Líquida" tinha o mesmo significado de Patrimônio Líquido, originando-se dai, provavelmente, esse chavão de que o Patrimônio Líquido seria a diferença entre o Ativo e o Passivo.

 

Por fim, com o início da vigência da Lei 6.404/76, a expressão Patrimônio Líquido foi criada como um Grupo exclusivo dentro do Passivo, junto com as demais obrigações com terceiros. Assim, o Passivo passou a ter duas grandes partes:

  1. Obrigações da empresa com Terceiros (fornecedores, impostos, empréstimos e financiamentos bancários, etc., de curto e longo prazo) — Essa seria a parte exigível do Passivo (Atualmente denominado de Passivo Circulante e Passivo Não Circulante);

  2. Obrigações da empresa com os Proprietários (Capital, Lucros e Resevas) — Essa seria a parte não exigível do Passivo (Atualmente denominado de Patrimônio Líquido).

É por isso, Joãozinho, que o Ativo será sempre igual ao Passivo: Ativo (Bens e Direitos) = Passivo (obrigações com terceiros + patrimônio líquido).

 

Por fim, se quisermos isolar o conceito de Patrimônio Líquido, podemos escrever assim: Patrimônio Líquido é a diferença entre o Ativo Total menos a parte exigível do Passivo (Passivo Circulante + Passivo Não Circulante).

 

Agora ficou mais claro?

 

Joãozinho responde:
– Agora sim, professor, entendi!

 

 

No capítulo VII desse nosso livro digital, vamos falar mais sobre esse assunto, considerando as alterações na estrutura do Balanço Patrimonial trazidas pelas Leis 11.638/2007 e 11.941/2009.

 

 

Mas Joãozinho não para:

- Professor, tem outra coisa me intrigando... Olhando para esse Balanço final, se o lado direito (Passivo) é coisa ruim, como o senhor vem pregando deste o início dessa aula, por que o meu lucro, que é coisa boa, aparece ali dentro? Te peguei nessa, hein!

 

- Joãozinho, a sua pergunta foi boa, mas parte da resposta já foi dada logo acima, na explicação da composição do Passivo. Vamos então fechar o conceito, veja só:

 

Vamos imaginar que existe duas personalidades neste contexto:

 

1. A personalidade material (a entidade/empresa), que assume a movimentação dos seus bens, direitos e obrigações — aquela representada pela imagem de braços abertos que usamos para ilustrar a aula;

 

2. A personalidade pessoal (você, em carne e osso, pessoa física).

 

O ponto é o seguinte: o lucro é bom para você, pessoa física, mas é uma obrigação para a empresa (sua personalidade material). Por isso ele aparece no Patrimônio Líquido, dentro do Passivo.

 

Lembra que eu disse que você poderia levar essa diferença ‘limpinha’, em dinheiro, para as suas mãos? Pois bem: o lucro nada mais é do que uma dívida da empresa para com o proprietário. Por isso ele fica dentro do Patrimônio Líquido — que, por sua vez, está dentro do Passivo.

 

Captou a lógica, Joãozinho?

 

Joãozinho responde:
– Perfeitamente professor!

 

Concluindo...

 

Perceberam, pessoal, como aquilo que parecia complicado vai ficando mais simples?

 

Na verdade, vocês já praticam contabilidade todos os dias, no seu jeito de organizar as finanças pessoais.

 

A diferença está que, na empresa, tudo precisa ser formalizado: lançamentos contábeis, contas, livros ‘Diário’ e ‘Razão’.

 

O mais importante agora é ter o raciocínio da estrutura contábil bem firme na cabeça. A formalização, depois, é só questão de prática.

 

Por isso, nessa fase inicial, exercitem bastante a sua contabilidade pessoal. Vai por mim: isso vai facilitar — e muito — o entendimento da contabilidade empresarial.

 

O aprendizado atual da contabilidade:

 

Antigamente, os auxiliares de escritório aprendiam contabilidade dentro das próprias empresas onde trabalhavam. Acompanhavam, passo a passo, todo o processo contábil, e quando chegava o momento de frequentar o curso de bacharelado em Ciências Contábeis, já dominavam a prática com facilidade. Se antes os empregos funcionavam como verdadeiras escolas, hoje o caminho mudou: para conhecer todo esse processo, só mesmo com os cursos acessíveis e os bons livros de contabilidade.

 

Este Livro Digital é um excelente ponto de partida nessa jornada. Se você gostou deste primeiro capítulo, siga comigo nessa viagem pelo fascinante mundo da contabilidade.

 

No próximo capítulo, vamos responder à pergunta que não quer calar: “por que ora debitar, ora creditar?”

 

Vem comigo, vem na fé!

 

 

 

Texto original de 12/05/2001 > Repaginado e atualizado em Julho de 2025.