
Fico feliz em saber que vocês já estão vendo a tal contabilidade de uma forma mais amistosa. Já estão até gostando, não é?
Então vamos continuar.
Vocês tiveram na introdução dos nossos trabalhos uma visão de como é uma contabilidade pessoal, pois aposto que muitos até montaram os seus balanços pessoais. Acertei? Espero que a situação patrimonial de vocês esteja de boa para ótima.
Eu disse que a diferença da contabilidade individual para a contabilidade de uma empresa, está que na empresa, as transações (compras, vendas, pagamentos, recebimentos) tem que ser formais, ou seja, tem que ter os lançamentos contábeis, as contas, os livros Razões e Diários.
Aprendendo a formalizar...
Agora eu quero passar para vocês como é que a gente formaliza essas transações. A meu ver o iniciante em contabilidade, para que consiga entender com mais facilidade essa matéria, deve primeiramente saber porque é que se DEBITA isso e se CREDITA aquilo e o que é esse tal Método das Partidas Dobradas de que já ouviu falar ou então já viu nos livros de contabilidade, mas não conseguiu entender direito.
Calma gente. Não se assustem, pois verão novamente que é tudo MUITO SIMPLES.
Vamos trazer de volta aquele Balanço que nós apuramos em 30/06/2025, já com o patrimônio líquido apurado.
Voltando para o Balanço acima, vamos dar o nome de CONTAS a todos os componentes que ali estão registrados. (conta Dinheiro na Carteira, conta Salários a receber, conta Automóvel, conta Escolas a pagar, etc.)
Se você, que é dono da situação acima, resolver sacar R$ 1.600,00 do saldo que tem na sua conta corrente no Banco, a conta Dinheiro no Banco C/Corrente, do seu Balanço, diminuirá de R$ 3.300,00 para R$ 1.700,00.
Poderíamos dizer que foi só isso que aconteceu?
Claro que não, pois a sua carteira ficou mais “gorda”, ou melhor, a sua carteira passou a ter mais R$ 1.600,00. Com isso a Conta Dinheiro na Carteira, do seu Balanço, aumentou de R$ 330,00 para R$ 1.930,00.
Frisando: a conta Dinheiro no Banco C/Corrente diminuiu de R$ 3.300,00 para R$ 1.700,00 e a conta Dinheiro na Carteira aumentou de R$330,00 para R$ 1.930,00.
Se você pagar os R$ 1.800,00 que deve a Loja Tem Tudo, essa dívida (passivo – coisa ruim) não mais existirá no seu Balanço, mas o dinheiro utilizado para esse pagamento não caiu do céu. Para isso você utilizou-se do dinheiro que tinha na sua carteira.
Frisando: A conta Contas a pagar da Loja Tem Tudo diminuiu de R$ 1.800,00 para zero e a conta Dinheiro na Carteira diminuiu, agora, de R$ 1.930,00 para R$ 130,00.
Bom, eu acho que vocês já entenderam. As situações acima foram colocadas justamente para isso, vocês entenderem de forma bem clara que SEMPRE que mexermos em uma CONTA, automaticamente teremos o reflexo em outra CONTA. A isso damos o nome de Método das Partidas Dobradas. Simples, não é gente?
Esse “mexermos” que falei seria, em linguagem mais formal, o registro dos fatos ocorridos. E para se fazer o registro de todos os fatos que ocorrem na situação patrimonial de uma empresa, é necessário utilizar-se da técnica do LANÇAMENTO, que é o meio pelo qual se processa a escrituração desses registros.
Para se fazer o LANÇAMENTO é necessário conhecer os seus elementos, que são:
1º - Local e data de ocorrência do evento;
2º - Conta a ser debitada;
3º - Conta a ser creditada;
4º - Histórico do evento; e
5ª - Valor da operação.
Vamos nos ater apenas nos 2º e 3º elementos, pois estes requerem um pouco mais de atenção, pois é fundamental que o iniciante entenda o porque de ora debitar e ora creditar.
Nós já sabemos que o ATIVO (coisas boas) é composto por bens e direitos e o PASSIVO (coisas ruins) é composto pelas obrigações, juntamente com o patrimônio líquido. Sendo, como a gente já vem frisando bastante, um positivo (ATIVO) e um negativo (PASSIVO), portanto um é o oposto do outro. Por isso, no momento de fazermos os lançamentos precisamos distinguir através de um sinal o que é ATIVO e o que é PASSIVO. Para isso a CONTABILIDADE CONVENCIONOU que a movimentação de seus componentes (CONTAS) será efetuada através de lançamentos de DÉBITOS e CRÉDITOS e que os componentes do ATIVO (coisas boas) terão sempre SALDOS DEVEDORES e os componentes do PASSIVO (coisas ruins + PL) terão sempre SALDOS CREDORES.
Nós estamos, vamos dizer assim, em uma sala de aula virtual. Isso é bom? Não resta dúvida que é ótimo. Pois podemos estudar no momento que for mais conveniente, não precisamos ficar escrevendo, e podemos rever a matéria por diversas vezes. O único problema é que falta aquele “pentelho” que adora fazer perguntas, pois algumas dessas perguntas acabam sendo bem oportunas. Espera ai, quem disse que não temos?
Pois é, o Joãozinho quer fazer outra pergunta:
- Professor João Leite, todas as respostas que me deu até agora eu dominei no peito, processei na cachola e entendi perfeitamente, sem deixar a bola quicando. Mas agora eu acho que a coisa complicou. O senhor está dizendo, se é que eu entendi direito, que os componentes do ATIVO (coisas boas) terão sempre SALDOS DEVEDORES e os componentes do PASSIVO (coisas ruins + patrimônio líquido) terão sempre SALDOS CREDORES. Como é que você quer que eu entenda que as minhas coisas boas tenham saldos devedores? Me desculpe, mas agora, acho que você endoidou!
Faz sentido o seu questionamento Joãozinho, pois o significado da palavra débito no dicionário é dívida, por isso que os iniciantes nesta matéria acabam se confundindo. Mas eu vou pedir para vocês esquecerem esse conceito do dicionário. Pois eu acabei de dizer logo mais acima que os nomes de DÉBITOS e CRÉDITOS foram determinados por uma convenção contábil, portanto na contabilidade essas duas palavras (débito e crédito) não têm o mesmo sentido que na linguagem comum. O importante é vocês gravarem que as Contas do ATIVO (coisas boas) terão sempre saldos devedores (mera convenção) e as Contas do PASSIVO (coisas ruins) terão sempre saldos credores (mera convenção).
Vou aproveitar e já colocar mais uma situação que também confunde esses conceitos. Quando uma pessoa fica com sua conta bancária “estourada” no cheque especial, o saldo aparece no extrato com a letra “D” logo após o saldo negativo. Ai ela diz que está devedora no Banco. De fato ela deve ao Banco, mas essa letra “D” no extrato, especificamente, não quer dizer “D” de devedora no sentido de dívida, e sim que é um direito do Banco, portanto, está no ATIVO do Banco, e por convenção contábil tem saldo devedor. Já na contabilidade dessa pessoa, ficaria no PASSIVO, pois é uma dívida, e por convenção contábil teria saldo credor.
Vocês não podem confundir as coisas, pois quando efetuamos as transações contábeis, os sinais não podem ser os mesmos para as partes envolvidas, pois quando um paga é porque o outro está recebendo, quando um vende é porque o outro está comprando. As transações trarão sempre direitos para uns e obrigações para outros e vice-versa.
Concluindo...
Neste capítulo aprendemos a técnica do lançamento contábil, que é o instrumento usado para executar a escrituração contábil de uma empresa. Ficou claro que os fatos contábeis são registrados em Contas, através do lançamento, e que sempre que alterarmos uma conta, consequentemente, teremos o reflexo em outra conta, pelo mesmo valor. Essas contas serão movimentadas sempre com débitos e créditos (nomes esses definidos por mera convenção contábil), e no ATIVO constarão os bens e direitos que terão sempre saldos devedores e no PASSIVO constarão as obrigações (dívidas) e o Patrimônio Líquido, que terão sempre saldos credores.
Resumindo: Escrituração contábil é o registro sistemático de todas as operações financeiras da empresa, obedecendo aos princípios e normas contábeis. Esses registros são feitos em livros contábeis, como o Livro Diário e o Livro Razão, elaborados conforme a legislação vigente.
No próximo capítulo vamos viver intensamente tudo isso, com a contabilidade do nosso dia a dia. Teremos um caso prático, mas ainda na forma de contabilidade pessoal, pois acredito que assim facilitará bastante o aprendizado e a assimilaçao dos procedimentos contábeis para quando entrarmos definitivamente no estudo da contabilidade normal de uma empresa. Assim, não deixem de ver o próximo capítulo, pois, com certeza, trata-se de uma excelente base para o aprendizado da contabilidade. Vem na fé!
Texto original de 08/06/2001 > Repaginado e atualizado em Julho de 2025.