
Pois é, pessoal! Depois de três capítulos voltados para a movimentação financeira da pessoa física — uma forma mais leve e prática de assimilar os conceitos contábeis — começamos agora a aprofundar um pouco mais o estudo, já direcionando o olhar para a contabilidade das empresas.
E o título deste capítulo é: "A importância do Passivo".
– Ô não!!! Lá vem bronca... O Joãozinho já levantou a mão.
– Olha aqui, Professor João Leite, não entendi nada desse título. Lá no Capítulo I o senhor falou que Passivo era coisa ruim, negativo, que só atrapalha. Agora vem dizer que ele tem importância? Vai me deixar confuso igual no Capítulo II?A observação do Joãozinho, sim, tem fundamento. No início, propositalmente, associei Passivo a algo “ruim” — contrapondo ao Ativo como “coisa boa”, procurando facilitar o entendimento, consequentemente, facilitar o aprendizado. E a metodologia funciona, porque simplifica o raciocínio para quem está começando.
Mas agora chegou a hora do “ajuste fino” na sua percepção contábil. Vamos sofisticar o raciocínio.
Afinal, o Passivo é ruim ou é bom?
Tecnicamente, o Passivo representa as obrigações da empresa. É tudo aquilo que ela deve a terceiros, como por exemplo:
Fornecedores a pagar
Impostos a recolher
Empréstimos e financiamentos
Salários e encargos a pagar
Essa parte é chamada de Capital de Terceiros.
Mas o Passivo também inclui um outro grupo: o Patrimônio Líquido, que representa o Capital Próprio — ou seja, o valor investido pelos sócios, acrescido (ou diminuído) dos lucros (ou prejuízos) acumulados.
Então, veja só: o Passivo tem duas naturezas distintas dentro dele:
Capital de Terceiros → obrigações externas (fornecedores, empréstimos, contas a pagar, etc.)
Capital Próprio → direitos dos sócios sobre a empresa
Quando eu associei o Passivo a “coisa ruim”, estava me referindo ao Capital de Terceiros. Isso porque quanto menor ele for, melhor para a saúde da empresa.
Mas… eis onde mora a importância
Por mais que o “Capital de Terceiros” represente dívidas, ele também é, muitas vezes, o combustível que move a empresa para frente.
Nem toda empresa nasce com dinheiro sobrando. Assim, elas precisam:
Comprar mercadorias para revenda
Adquirir matéria-prima
Investir em máquinas, veículos, móveis
Expandir suas instalações
E, para isso, precisam recorrer ao crédito. É aí que o Passivo entra em cena.
Solicitar um financiamento, comprar a prazo, ou negociar com fornecedores — tudo isso faz parte da engrenagem da vida empresarial.
Ou seja: o Passivo bem administrado pode ser um grande aliado no crescimento da empresa.
O segredo está na qualidade da dívida
Não é só questão de ter ou não dívida, mas que tipo de dívida e em quais condições:
Prazo: quanto mais longo, menor impacto no caixa
Custo: juros baixos preservam a rentabilidade
Finalidade: Dívida para investimento (ativo imobilizado, por exemplo) é diferente de dívida para cobrir rombo de caixa.
Exemplo:
Se a empresa compra um equipamento a prazo de 5 anos, com juros baixos, ela pode começar a produzir e gerar receita com esse equipamento antes mesmo de quitar a primeira parcela. Isso é gestão inteligente.
Em resumo:
O Passivo é importante, sim — desde que bem administrado.
Ele pode ser a mola propulsora do crescimento, da inovação, da modernização e da competitividade de uma empresa.
Mas cuidado:
Se virar bola de neve, afunda tudo.
Se for usado com inteligência, ergue impérios.A contabilidade não julga. Ela revela. E o Passivo é parte da história que todo bom contador deve saber interpretar.
Concluindo...
Agora que vocês já entenderam que o Passivo, quando bem administrado, pode ser um aliado poderoso para o crescimento de uma empresa, é hora de ampliar o nosso campo de visão. Até aqui, trabalhamos conceitos e exemplos voltados para a realidade da pessoa física, como um treino preparatório para entender a mecânica contábil. A partir do próximo capítulo vamos começar a viver no ambiente das empresas, conhecendo suas particularidades, estrutura e obrigações, começando com uma história encantadora: "Da caneta tinteiro ao Sped Digital". Vem na fé!
Texto original de 10/02/2004 > Repaginado e atualizado em Julho de 2025